quinta-feira, maio 09, 2013

PAUL IN GOIÂNIA - SERRA DOURADA STADIUM

“Pegar o carro, parar para tomar um suco de acerola, olhar no relógio e rumar para o estádio Serra Dourada, reduto de vários jogos de futebol aqui de Goiânia é um programa que gosto muito. Só que dessa vez eu estou indo até lá para assistir a um show. Qual? Bom, um show de um dos meus ídolos de infância e da adolescência, junto de John, George e Ringo. É um show do beatle (ex-beatle NON ECKZISTE!) Paul McCartney.” 

Se eu escrevesse o parágrafo acima no ano passado, muitos dos que conhecem meus textos, nos quais crio situações fictícias do personagem Big Charles (o próprio Carlão aqui) em interação com os Beatles não teriam dúvidas de que se tratava de mais uma beatlefic. 

Pois é, pessoal… Não é não! O cara veio na minha cidade antes mesmo de eu ir até a dele! E depois de ter assistido a três de seus shows (um num camarote e dois nas arquibancadas), desta vez animei e me postei ali, bem na sua frente, na Pista Premium. Apesar de já ter completado cinquenta e três aninhos (o corpinho ainda é o mesmo de cinquenta e dois), mais em frequente débito com exercícios físicos, toda aquela dor nas pernas e na velha coluna, devida à espera em pé, simplesmente desapareceu. O cara entrara em cena! 

Com um blazer rosado e o característico sorriso no rosto, Sir Macca logo começou a cantar Eight Days a Week, canção que ele escreveu com ajuda de John Lennon, após ter ouvido do motorista do táxi, no trajeto até a casa do parceiro, reclamar que estava trabalhando oito dias por semana.

Eight Days a Week

Daí, nesse momento, todo tipo de dor física foi dissipada e qualquer preocupação relacionada à rotina exigente do dia-a-dia foi jogada para escanteio, ali mesmo no canto do estádio. Jovial e sempre brincalhão, Paul tascou na primeira fala: “Ôi Goiânia! Ôi goianos! Esta noite vou tentar falar um pouco de português. Espero não falar bobaginha.”. 

Com o fundo multicolorido do telão e com a bela iluminação que destacava Paul e a sua incrível banda, inicialmente tive a impressão de estar diante de uma imensa televisão 3D, porém alguém cochichou no meu ouvido – seria John (homenageado e lembrado mais uma vez em Here Today) dando uma sapeada por aqui e me vendo atônito resolveu me cutucar? -: ‘Ô cabeção, o cara tá aí mesmo, na sua frente!’. E estava mesmo! 

Quando rolava a apresentação de My Valentine, vários insetos da família Tettigoniidae, conhecidos como “esperanças”, apinharam na sua camisa branca, que, sempre bem iluminada – mais do que a roupa do restante da banda – chamava bem mais atenção dos bichinhos alados. Há na cultura popular a crença de que o pouso deste inseto em uma pessoa lhe trará boa sorte. With a Little Lucky, Paul! 

E assim (como numa apresentação durante a turnê de Driving Rain nos EUA, quando a sua equipe levantou cartazes com corações no momento em que ele cantava The Long and Winding Road o deixando engasgado e quase sem poder continuar a canção), o incrível profissionalismo e experiências de palco, fizeram Paul contornar a situação e continuar a canção. Ele só deixou escapar uma risadinha mais forte quando um deles, mais afoito, insistiu e acabou entrando pelo seu colarinho, roçando-lhe a nuca! Seria fêmea? 

Penso que talvez outro artista, mais estrelinha do que profissional, poderia ter parado o show e solicitado uma providência para a retirada ou minimização do inusitado balé dos inócuos insetos. Paul McCartney não! O gênio simplesmente transformou a situação num ponto pitoresco e bem-humorado do show, acariciando um dos renitentes alados (que não saía do seu ombro) e dando-lhe o nome de Harold, o qual foi apresentado como ‘meu novo amiguinho’. 

Paul e Harold, seu novo "amiguinho"

Um festival de balões vermelhos foi erguido durante My Valentine, homenagem ao seu recente casamento com Nancy Shevell – que, diga-se de passagem, deve ter sido uma das responsáveis pelo novo look de Paul: mais antenado, porém elegantemente despojado e solto! Celulares e isqueiros foram acionados e iluminaram o estádio enquanto ele cantava Let it Be. Cartazes (gentilmente cedidos pela musa da beatlemania Claudia Tapety), sobre a segunda-feira sem carne, foram levantados ao som de Maybe I’m Amazed que ele, como sempre, dedica à Linda McCartney, morta em 1998. Nancy, permitindo o gesto, é mesmo uma pessoa que entende das coisas. 

De repente, um ursinho de pelúcia, com uns baitas óculos, presenteado por alguma fã, foi parar no seu incrível piano multicolorido, e ali ficou ouvindo privilegiadamente Your Mother Should Know e Lady Madonna. Depois, balões negros voaram durante Blackbird, enquanto Paul, em cima de um tipo de andaime móvel, levitava sobre a plateia. 

O simpático ursinho ouvindo Your Mother Should Know e Lady Maddona

E o sonho assim foi se desenrolando. As emoções que vivi até hoje foram ali se apresentando também, coladas nos acordes, nas letras e nas melodias, tão vivas e atuais como só uma obra universal pode se revelar: a deliciosa Let me Roll it, o rockaço Hi, Hi, Hi (que fora proibida nos anos setenta por conotações sexuais – o velho puritanismo calhorda, hoje praticamente extinto graças a vários movimentos e também a mensagens como essa de Paul), All Together Now, que nos deu uma pitada do filme Yellow Submarine. Being For The Benefit Of Mr. Kite!, uma música praticamente toda de John Lennon, que a compôs após adquirir um pôster que anunciava a apresentação de um show de circo, cujos efeitos sonoros somente há pouco tempo a permitem ser apresentada ao vivo. Lovely Rita, que Paul fez para guardas de trânsito londrinas, que multavam quem parasse seus carros em locais proibidos. Uma flor vermelha de pelúcia foi lançada no palco por um fã e sobre o piano negro ficou desde Golden Slumbers até o final da apresentação. E, numa das performances mais tocantes, mesmo constante na maioria dos seus shows, Something, quando surgem várias imagens de George Harrison, fazendo com que este que vos escreve mais uma vez se debulhasse em lágrimas. Há momentos, não importa sua repetição, nos quais é impossível segurar o coração.

A flor vermelha sobre o piano

Assim, como que para coroar a certeza de que Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr serão ouvidos enquanto brotarem corações, ao meu lado jovens com menos de vinte anos de idade cantavam cada canção e gritavam como se estivéssemos em 1964. Percebi, emocionado, que naquele momento eles estavam também preenchendo a trilha sonora de suas vidas...

Voltei no tempo, estamos no tempo. Viva a música que exala vida: “Love is old, love is new, love is all, love is you.”. E nos versos de Sir Paul, despedindo-se do Serra Dourada: “And in the end, the love you take, is equal to, the love you make.” 

THANK YOU, SIR!

Golden Slumbers/Carry That Weight/The End (live Goiânia - by Carlos Edu Bernardes)

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